domingo, outubro 21, 2007

wc

Sabem que eu sou uma pessoa que lê muito. Nem sequer leio muitos livros, e jornais e revistas também nem tanto como isso. Mas há outros suportes literários. Suportes estes ideais para poesia.

Muita gente pensa que poesia é uma coisa elitista e que é nos livros que se encontra a boa poesia. Mas não é! Não, nada disso.

Só quem está distraído é que é capaz de pensar tal coisa. Porque a boa poesia está nas portas e paredes dos quartos de banho. Principalmente públicos. Embora o “pirotecnia biológica” esteja na minha parede.

Este aliás é um belo poema de um ex-residente que, certamente, o imortalizará.

A este tipo de poesia, e sem qualquer desprimor, eu chamo-lhe poesia de caca. Não porque o seu valor se assemelhe ao da caca, mas porque o momento da sua leitura está intimamente relacionado com o acto da defecação.

Há um poema que é mais mítico que os outros todos, é aquele que soa assim:

Neste lugar solitário,

Onde a vaidade se acaba,

Todo o cobarde faz força,

Qualquer valente se caga!

É sem dúvida uma quadra que inspira e sempre me inspirou.

Mas não é só poesia que se pode ler nestes locais de cultura. A conviver com a poesia há sempre prosa, desenho (como espirais, cubos ou representações mais fálicas) e ciência, nomeadamente, trigonometria!

A solução para as grandes questões do mundo está nas entrelinhas dos lavabos.

Recentemente li “Olha para o papel higiénico e farás uma descoberta” e assim o fiz.

No suporte do papel, daqueles grandes e redondos, de lata cromada, dizia “o mundo é feito de camadas de papel” e tinha uma seta a apontar para a prova. A prova era um sistema de eixos com origem no centro da lata, uma recta a passar pela origem, com ângulo teta, e tinha o seno e co-seno assinalados.

Pensei para mim o que quereria isto dizer e cheguei a uma conclusão, não faço ideia! E não faço mesmo, mas agora tenho um ponto de partida para tentar descobrir o sentido da existência do mundo, usando a minha “vã filosofia” e já me sinto outro, sou muito mais feliz.

Na porta, estava também escrito a lápis um belo texto cujo conteúdo não vem para o caso mas uma particularidade na forma. A letra era cada vez mais pequenita, as tantas já custava um coto a ler e eu aproximava a vista, ficava mais pequena e eu continuava a aproximar a vista e ficava ainda mais pequena e eu já quase encostava a vista à letra e quando vou a ler a última frase dizia ”cuidado, estás a borrar as calças”

Por acaso até nem estava, mas isso é porque eu tenho muito jeito para acertar na sanita, mas com outro qualquer poderia haver problemas. Por isso aconselho-vos a levar sempre uma lupa para ler as letras mais miudinhas.

Isto tudo depois de ter chegado em quase desespero ao sanitário, baixado as calças, levantado as tampas da sanita com a ponta da sapatilha e ter-me aliviado à caçador.

E esta conversa toda para quê? Bom, para vos dizer duas coisas.

A primeira é que a cultura está em todo o lado e não podemos fugir dela e a outra é que já um bom alívio de um aperto intestinal é um magnifico prazer, porque não associar sempre este prazer ao da leitura e das artes plásticas e ser muito mais feliz?

Sem comentários: